Soberba Ave-do-Paraíso

A Soberba Ave-do-Paraíso (Lophorina superba) macho é preta e tem, no peitoral, um verdadeiro escudo de penas verde-azul brilhante. No ritual de corte, os machos são muito sistemáticos. Primeiro eles arrumam o 'chão de dança', enfeitando-o com folhas selecionadas, e, então, chamam pelas fêmeas, as quais possuem penas com coloração marrom e marrom avermelhada. Elas, curiosas, se aproximam para ver o que está acontecendo. Então, os machos, imediatamente, começam um dança muito louca, a qual inclui um verdadeiro truque de mágica: eles contorcem o corpo e abrem as asas de tal forma que assumem um visual totalmente surreal! A partir daí, eles pulam, cantam, giram, tudo para conquistar as parceiras.


Macho em frente à fêmea durante sua fascinante dança. O dismorfismo sexual jé grande, com o macho só sendo similar à fêmea quando filhote.
As fêmeas dessa espécie são muito menores em número do que os machos, em uma proporção estimada de 16:1. Isso provavelmente explica porque os machos evoluíram dessa maneira, se tornando tão diferentes das fêmeas e possuindo característica tão fantástica de sedução. Eles precisam ser muito impressionantes para conseguir vencer seus concorrentes e atrair as fêmeas escassas. E as fêmeas não ajudam: de tão exigentes, elas recusam, em média, cerca de 20 machos antes de escolher um! Baita injustiça com os esforçados galanteadores!


Pesando em torno de 89 gramas e com um comprimento de aproximadamente 26 centímetros, a Soberba Ave-do-Paraíso possui hábitos solitários, vocalização alta e de fácil discernimento (ocorrendo mais no início da manhã e no final da tarde, com fins territoriais ou de corte), e os machos se mostram bastante territoriais, apesar de normalmente não expressarem um comportamento agressivo frente a outros machos (provavelmente usam a vocalização para definir suas áreas de domínio). A alimentação é composta majoritariamente por insetos, e cerca de 24% compreende frutas. Machos podem viver por até 21 anos, e é reportado que as fêmeas podem alcançar os 30 anos de idade.
As fêmeas, apesar de construírem seus ninhos no território dos machos com os quais elas cruzaram, cuidam dos ovos e dos filhotes sozinhas. Enquanto os machos - poligâmicos - demoram cerca de 5-7 anos para atingir a maturidade sexual, as fêmeas demoram apenas 3 anos. Excetuando-se encontros para fins reprodutivos, machos e fêmeas raramente interagem. O período de incubação dos ovos é em torno de 16-19 dias, e os filhotes se desenvolvem rapidamente, se tornando independentes em cerca de 25-30 dias, mas ainda continuam requisitando cuidados da mãe por mais várias semanas.


A espécie é nativa da Indonésia, da Nova Guiné e da Papua Nova Guiné, habitando áreas montanhosas. Existem sete subespécies espalhadas ao longo da Nova Guiné, e a população da parte Oeste dessa região, em 2017, foi reclassificada como uma nova espécie (Lophorina neidda inopinata), algo evidenciado tanto a nível macroscópico para ambos os sexos (comportamento e visual) quanto a nível genético. Antes dessa reclassificação, o Soberba Pássaro-do-Paraíso era a única espécie do seu gênero (Lophorina).


Como não existem evidências de significativos declínios populacionais ou substanciais ameaças, a espécie hoje é considerada fora de qualquer risco de extinção. Porém, é válido frisar que não existe uma boa quantidade de estudos sobre a dinâmica populacional desse animal e sobre sua biologia em geral no meio selvagem, além de existir um significativo interesse comercial pelas penas do macho (caça ilegal).

CURIOSIDADE: Assim como algumas outras Aves-do-Paraíso, a Soberba Ave-do-Paraíso possui penas super pretas, as quais mostram uma reflectância tão baixa quanto materiais humanos super pretos (ou seja, projetados para serem o mais negro possível e refletirem o mínimo de radiação no espectro visível), algo detalhado em um recente estudo publicado na Nature. Absorção estrutural pode ocorrer quando cavidades superficiais que são muito maiores em largura do que o comprimento de onda da luz visível causam múltiplas dispersões da luz. Parte da estrutura das penas dessas aves possuem cavidades com cerca de 200-400 micrômetros de profundidade e cerca de 5-30 micrômetros de espessura, com menores cavidades marginais com menos de 5 micrômetros, o que leva a uma grande dispersão ao invés de reflexão da luz, gerando uma absorção acima de 99,95% da luz visível incidente!